tag:blogger.com,1999:blog-7689238598116559081.post1870942753221480392..comments2008-11-12T15:17:50.517-08:00Comments on A Pequenina América...: Mayombehttp://www.blogger.com/profile/10286115016307279048noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-7689238598116559081.post-69535535146936529142008-11-12T15:17:00.000-08:002008-11-12T15:17:00.000-08:00Conversando com mamãePor Mariana Sgarioni (Itau cu...Conversando com mamãe<BR/>Por Mariana Sgarioni (Itau cultural)<BR/>Há uma década, a vida financeira da recepcionista Vanda Moreira, de 50 anos, moradora do Rio de Janeiro, andava de mal a pior. Estava atolada em dívidas. Um dia ela estava em casa, fazendo contas, no fim da tarde, e o telefone tocou.<BR/><BR/>− Dona Vanda? Aqui é do cemitério do Irajá.<BR/><BR/>"Só faltava mais essa", ela pensou. "Que diabos alguém do cemitério quer a essa altura do campeonato?"<BR/><BR/>− Olha, dona Vanda, como sabe, a senhora sua mãe foi enterrada aqui já faz três anos. Está na hora de tirar os ossos da gaveta. Precisa ver o que vai fazer. Ou compra um jazigo ou então...<BR/><BR/>− Então o quê, moço?<BR/><BR/>− Nós jogamos os ossos no lixo. Tá cheio de osso aqui entulhado, dona Vanda.<BR/><BR/>Vanda entrou em pânico. Como poderiam jogar sua mãezinha no lixo? Pois era isso mesmo o que eles faziam com os ossos que não tinham destino. Perguntou, então, quanto custava um jazigo: 3 mil reais. Uma verdadeira fortuna, eram seis meses de salário. Impossível.<BR/><BR/>Conversando com as irmãs, ela se lembrou de que a família tinha um túmulo no Espírito Santo. O único jeito seria levarem o corpo pessoalmente.<BR/><BR/>"Fomos até o cemitério e lavamos osso por osso. A Marcia [uma das irmãs] botava na água, eu secava e a Severina [a outra] arrumava os ossinhos dentro da caixa de fibra", lembra.<BR/><BR/>Terminado o "serviço", Vanda colocou a caixa (com os ossos, evidentemente) dentro da bolsa, deu adeus ao coveiro e voltou ao ponto de ônibus.<BR/><BR/>Na manhã seguinte, cedinho, pegou a bolsa e foi direto para a rodoviária. Antes de embarcar para Vitória, o motorista, ressabiado, perguntou:<BR/><BR/>− A bolsa vai no bagageiro?<BR/><BR/>− Vai, sim, moço. Aqui dentro não tem nada que quebre.<BR/><BR/>Para sair do Rio de Janeiro, no entanto, não foi tão fácil. A Avenida Brasil estava toda parada, um engarrafamento dos diabos − que a mãe de Vanda nos perdoe. O trânsito estava assim por causa de uma blitz da Polícia Federal, que interpelou justamente o ônibus de Vanda.<BR/><BR/>− Alguém quer declarar algo que esteja dentro das malas?, perguntou o policial.<BR/><BR/>Antes que Vanda dissesse qualquer coisa, o rapaz da poltrona 40, lá atrás, perto do banheiro, se manifestou:<BR/><BR/>− Estou levando um curió, vivinho da silva, no bagageiro.<BR/><BR/>Ela ficou com vontade de rir − um passarinho vivo bem ao lado da mãe morta, que coisa.<BR/><BR/>− Mas isso é crime ambiental. − disse o policial, já prendendo o sujeito. − Mais alguém tem algo a dizer?<BR/><BR/>− Eu tenho, sim, senhor. Estou levando minha mãe para ser enterrada em Vitória. Mas ela já morreu faz tempo, viu? São só os ossos que estão aí, disse Vanda.<BR/><BR/>O policial empalideceu. A mulher levava um defunto. Ele respirou fundo e explicou que aquilo se chamava tráfico de ossos. Vanda chorou, chorou e chorou. Contou toda a vida, as dívidas, a fortuna do jazigo, até que o policial não agüentou mais e mandou que o motorista − junto com Vanda e a mãe dela − seguisse viagem. Em paz.<BR/><BR/>12 de Novembro de 2008 15:09<BR/>ExcluirMayombehttps://www.blogger.com/profile/10286115016307279048noreply@blogger.com